Resumo
O objectivo deste trabalho é propor uma breve reflexão sobre a contribuição dos géneros discursivos no ensino da língua na sala de aula de acordo com as teorias de Bakhtin, Dolz e Schneuwlye e Bronckart.
Os artigos de Bakhtin são visitados, procurando estabelecer similitude e diferenças entre as concepções de outros autores.
Discorre, também, sobre a dissimilação desses textos na escola. De alguma maneira, trata-se de tornar os géneros discursivos como instrumentos básicos para o ensino da língua, neste caso o português como língua segunda ou estrangeira em Timor-Leste.
Palavra-chave: Os géneros discursivos, o ensino de língua, a escola.
Introdução
A língua como instrumento de comunicação ou capacidade humana de comunicação que interage através de textos falados, escritos e gestuais. Assim todas as actividades, por mais variadas que sejam, estão relacionadas com a utilização da língua.
A língua como uma actividade, um processo criativo, inenterrupto de construção criado pelos linguísticos. a língua tem suas formas e factores que caracterizam-a não estética mas sim artística.
Wundt e Steintahl, consideram a língua como uma emanação da "piscologia dos povos" (Volker psychologie) ou "piscologia étnica". Mas Vossler diz que o motor principal da criação da língua é o "gosto linguístico". O gosto linguístico, é pelo qual o linguista tenta descobrir o facto de língua.
Na nossa vida quotidiana, estamos sempre em contacto com os textos, com anúncios, avisos de toda a ordem, artigos de jornais, catálogos, receitas médicas, literatura de apoio à manipulação de máquinas etc., exige capacidade metatextual para a construção e descodificação dos mesmos.
As formas em que se baseiam os enunciados, são características estáveis que determinam um género, com características temáticas, composicionais e estatísticas próprias. Sendo as esferas de utilização da língua extremamente heterogêneos, também os géneros apresentam grandes heterogeneidades, incluindo desde o diálogo quotidiano à tese científica. De acordo com esta afirmação Bakhtin distingue dois géneros discursivos, géneros primários e secundários.
Fundamentos teóricos
Géneros sócio-discursivo
A riqueza e a variedade dos géneros do discueso são infinitas, pois a variedade virtual da actividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa actividade comporta num repertório de géneros discursivos que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa (Bakhtin, 1992, p. 279).
A distinção entre géneros primários e secundários tem grande importância teórica, sendo esta a razão pela qual a natureza do enunciado deve ser elucidada e definida por uma análise de ambos os géneros.
A inter-relação entre os géneros primários e secundários de um lado, o processo histórico de formação dos géneros secundários do outro, eis o que esclarece a natureza do enunciado (acima de tudo, o difícil problema de correlação entre língua, ideologia e visões do mundo).
O estudo da natureza do enunciado e da diversidade dos géneros de enunciados nas diferentes esferas da actividade humana tem importância capital para todas as áreas da linguística e da filologia.
Uma concepção clara da natureza do enunciado e dos vários tipos de enunciados em particular (primários e secundários), ou seja dos diversos géneros do discurso, é indispensável para qualquer estudo, ignorar a natureza do enunciado e as particularidades de géneros que assinalam a variedade do discurso em qualquer área do estudo linguístico leva ao formalismo e a abstração, desvirtua a historicidade do estudo, enfraquece o vínculo existente entre a língua e a vida. A língua penetra na vida através dos enunciados concretos que realizam, e é também através dos enunciados concretos que a vida penetra na língua.
O estilo está ligado indispensavelmente ao enunciado e a forma dos enunciados, isto é, aos géneros do discurso. Um género discursivo reflecte a individualidade de quem fala (ou escreve), isto é, possui estilo individual. Mas nem todos os enunciados são igualmente aptos para reflectir a individualidade na língua do enunciado, ou seja, nem todos são propícios ao estilo individual. Os géneros mais propícios são os literários.
O vínculo indissolúvel, orgânico, entre o estilo e o género mostra-se com grande clareza quando se trata do problema de um estilo linguístico ou funcional, de facto, o estilo linguístico ou funcuonal nada mais é senão o estilo de um género peculiar a uma dada esfera da actividade e da comunicação humana.
Em cada época do seu desenvolvimento, a língua escrita é marcada pelos géneros do discurso e não só pelos géneros secundários (literários, científicos, ideológicos), mas também pelos géneros primários (os tipos do dialogo oral:linguagem da reuniões sociais, os círculos, linguagem familiar, quotidiana, linguagem sócio-política, filosófica, etc.)
A ampliação da língua que incorpora diversas camadas da língua popular acarreta em todos os géneros (literários,científicos, familiares, etc.), a ampliação de um novo procedimento na organização e na conclusão de todo verbal e na modificação do lugar que será reservado ao ouvinte ou ao parceiro. Assim para o ensino da língua, neste contexto a língua portuguesa, necessita de uma metodologia adequada para o estudo da natureza do enunciado e da particularidade dos géneros do discurso que permita compreender melhor a natureza das unidades da língua (da língua como sistema) : as palavras e as orações.
A escola
Scheneuwly e Dolz (s.d.) desenvolvem a ideia de que o género discursivo é utilizado como meio de articulação entre as práticas sociais e os objectos escolares, especialmente no que diz respeito ao ensino da produção de textos, escritos ou orais. Definindo o ensino como um sistema de acções, uma acção da linguagem consiste em produzir, compreender, interpretar ou memorizar um conjunto organizado de enunciados orais ou escritos, isto é, um texto. Isto implica diferentes capacidades da parte do sujeito apreendente.
Scheneuwly & Dolz hipotetizam que é através dos géneros - vistos como formas relativamente estáveis tomados pelos enunciados em situações habituais, entidades culturais intermediárias que permitem estabilizar os elementos formais e rituais das práticas de linguagem - que essas práticas se "encaram" nas actividades de aprendizagem justamente em virtude de seu carácter intermediário e integrador.
De acordo com as potulações de Adam (especialmente, 1993) Scheneuwly, Dolz e Bronckart defendem que todo texto é formado de sequências, esquemas linguísticos básicos que entram na constituição dos diversos géneros e variam menos em função das circunstâncias sociais. Cabe aos agentes realizadores (professores) do ensino escolher de entre as sequências disponíveis, os mais adequados baseando-se nos parâmetros.
A situação escolar apresenta uma particularidade: nela se opera uma espécie e desdobramento que faz com que o género deixe de ser apenas ferramenta de comunicação, passando a ser, ao mesmo tempo, objecto de ensino e aprendizagem.
O objectivo da introdução de um género na escola é o resultado de uma decisão didáctica para:
- levar o aluno a dominar o género, principalmente para melhor conhecê-lo ou apreciá-lo, para melhor saber compreendê-lo, produzi-lo na escola ou fora dela; para desenvolver capacidades que ultrapassam o géneros e são transferíveis para outros géneros próximos ou distantes. Para realizar tais objectivos, torna-se necessário uma transformação, ênfase em determinadas dimensões, etc.
- colocar os alunos, ao mesmo tempo, em situações de comunicação o mais próximo possível das verdadeiras, que tenham para eles um sentido, para que possam dominá-los como realmente são. Isto porque, como foi dito, o género, ao funcionar em um lugar social diferente daquele que está em sua origem, sofre necessariamente uma transformação passando a género a aprender, ainda que permaneça género para comunicar. Trata-se do desdobramento acima mencionado, que constitui o factor de complexificação principal dos géneros na escola e de sua relação particular com as práticas de linguagem: o género trabalhado na escola é sempre uma variação do género de referência, constituindo na dinâmica do ensino/aprendizagem, para funcionar uma instituição que o tem objectivo primeiro.
Espera-se que com a actividade do ensino/aprendizagem dos géneros discursivos na escola contribuam para o ensino do português e a produção de novos géneros textuais mais relevantes para o desenvolvimento linguístico em Timor-Leste.
Bibliografia
BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da linguagem. 10 ed. São Paulo : Anna Blume e Hcitec,
2002.
BRONCKART, J.P. Atividade de linguagem, textos e discurso: por um interacionismo
discursivo. Trad. de A.R. Machado e Paulo: Educ, 1999.
BAKHTIN, Michail. Estética da Criação Verbal. São Paulo, Martins Fontes, 1992.
DOLZ e SCHENEUWLY, B. Gents et progressio em expression orale et écrite: elements de
reflexion à pros d'une experience romande. Enjeux. Tradução de Roxane Rojo, (1996).
______. Os Géneros escolares - das práticas de linguagem aos objectos de ensino.
Tradução de G.S. Cordeiro. revista Brasileira de Educação, 11 Maio/Agosto, 1997.