Introdução
O trabalho que vou apresentar é um trabalho do resultado de leitura e visão pessoal sobre o português e os seus desafios em Timor-Leste.
Como todos sabemos o português foi desde sempre a língua de escolarização em Timor-Leste durante séculos, foi ensinada nas escolas como língua materna, pois foi a primeira língua com a qual os timorenses aprenderam a ler e escrever até 1975.
Durante a ruptura das relações diplomáticas com Portugal em virtude da invasão e anexação forçada de Timor-Leste pela Indonésia, e as tentativas de o extinguir, o português conseguiu resistir até que voltou a ter o seu estatuto de língua oficial depois do referendo de 1999, quando a maioria dos timorenses optou pela independência. Apesar de ter sido decidido e optado como língua oficial em parceria do tétum pela maioria, no entanto há grupos que não concordam com esta decisão, constituindo assim desafios para o desenvolvimento do português neste jovem país com tantas fragilidades. O português superará estes desafios? O futuro dirá.
Como e quando é que o português chegou em Timor?
Segundo o historiador professor Luís Filipe Thomas, o português espalhou-se pelas costas dos países que marginam o Oceano Índico essencialmente por três vias: por via de dominação política, por via do comércio e por via da missionação.
À dominação política foi necessariamente pelo estabelecimento de um certo número de portugueses de origem nos territórios ocupados. A segunda foi a do comércio, na altura a Coroa portuguesa se preocupou quase exclusivamente com a importação de especiarias asiáticas para a Europa. Finamente foi a da missionação, aqui não só divulgaram a religião, mas a pregação na língua em que se exprime o povo reveste uma importância central.
Talvez a missionação não contribuiu assim tanto para a divulgação do português ao nível das massas, mas, sem dúvida ao nível dos quadros eclesiásticos teve um maior contributo, visto que o clero nativo e os auxiliares laicos dos missionários, como os catequistas, foram, desde meados do século XVI, educados em colégios em que o português era veículo normal do ensino.
Ainda segundo o historiador, o português se escalonou em Timor por quatro fases bem distintas.
A primeira fase, o português se divulgou nos ancoradouros da costa do norte, como língua de comércio, (1515-1556).
Uma outra fase foi em 1702, com a presença portuguesa já comercial e religiosa, um cariz também político.
O primeiro governador a exercer funções, foi António Coelho Guerreiro, a pedido dos régulos católicos fiéis aos portugueses, receosos do perigo calvinista. Desembarcou em começos de 1702, com apenas uma trintena de homens.
Nos meados do século, no ambiente mental subsequente ao Concílio de Trento, aos inícios da Contra-Reforma e à chegada dos primeiros jesuítas à Ásia, os dominicanos estabeleceram-se primeiramente nas ilhas de Solor e Flores. Após a queda de Malaca em 1641, os bispos dessa cidade, cuja diocese incluía toda a Insulíndia, passou a ter residência normal em Timor, até a extinção do bispado no século XIX. Em 1738, foi instituído um colégio em Timor, provavelmente em Manatuto onde ensinaram os Oratorianos de Goa. Este estabelecimento foi sem dúvida, centro de difusão da língua portuguesa, fala e escrita a um pequeno número de nativos.
Mas, após a extinção das ordens religiosas em 1834, a instrução e com ela o uso do português tenha regredido muito – pois desapareceram os seminários e os conventos dos dominicanos e o clero chegou a reduzir-se no terceiro quartel do século XIX a dois sacerdotes seculares goeses. No entanto, o português continuava, pelo menos no meio urbano de Díli, a ser de uso corrente.
O governador Afonso de Castro (1859-1863) fundou o primeiro colégio só para os filhos dos liurais e Pe. A. J. Medeiros, da Sociedade das Missões Ultramarinas (depois bispo de Macau, em 1885-1897, diocese de que Timor dependia na altura), reorganizou desde 1877 as missões católicas criando igrejas e escolas, a cargo do clero secular e seus auxiliares, e das Madres Canossianas que trouxe para Timor. Foi com elas que o ensino se abriu também para as jovens. O evento mais significativo da histórica cultural de Timor foi a fundação em 1898 do Colégio de Soibada, dirigido até 1910 pelos jesuítas. Destinava-se à formação de professores-catequistas, incumbidos ao mesmo tempo da alfabetização e da instrução religiosa das populações rurais. Por ai passaram sucessivas gerações de timorenses que têm constituído até aos dias de hoje a elite cultural do território. Destes uns permaneceram fiéis ao seu cargo de formação e outros porém ingressaram no funcionalismo público, que formavam os quadros timorenses, na véspera da invasão.
Em 1915 abriu a primeira escola oficial em Díli, a que outras se seguiram, espalhadas pelo território, embora em profusão menor que as escolas missionárias. Juntaram-se-lhe na década de 60 as escolas militares mantidas pelo exército nas zonas mais recônditas, cujo número chegou a ultrapassar a centena.
Até aqui o ensino continuou a ter por veículo o português que foi interrompida pela invasão Indonésia em 1975. O processo da difusão do português como língua oficial foi muito lento. O desenvolvimento do ensino secundário foi mais lento ainda: durante largos decénios, até ao aparecimento da Soibada, nada ocupara o lugar do desaparecido seminário dos oratorianos; só em 1938 se intentou em Díli a criação de um colégio-liceu semi-oficial, logo arruinado pela ocupação japonesa durante a II Guerra (1942-1945). Apenas em 1952 se recomeçou, datando de então o Liceu; o Seminário foi organizado dois anos mais tarde, em Dare, e a Escola Técnica criada em Díli em 1965. Por 1972 surgiram em Bobonaro, Pante Macaçar (Oé-Cussi), Maubisse, Baucau e Lospalos escolas do ciclo preparatório.
O português não chegou, pois a ser em Timor a língua normal da comunicação oral, nem mesmo como língua de contacto entre etnias de diferente falar; tal função continuou a ser desempenhada até aos nossos dias pela língua veicular tradicional, o tétum.
“O catolicismo, como outros traços de influência portuguesa em Timor-Leste, foi facilmente absorvido certamente porque a cultura portuguesa foi aí muito mais proposta que imposta. (…). Timor não foi conquistado. Timor foi abordado, primeiramente, por mercadores, de que muito pouco se sabe ao certo;”
Em Timor a influência religiosa e cultural precedeu de mais de um século o estabelecimento de uma presença política visto que o primeiro governador português só em 1903, um século e meio mais tarde, veio a pôr o pé em Timor.
A presença religiosa era assim já mais que centenária quando começou a esboçar-se a presença política e militar do estado Português em Timor. O catolicismo foi aí aceite independentemente de qualquer relação de dominação, exactamente como o islão foi aceite na maior parte da indonésia
O facto de noventa por cento da população timorense que era um povo animista ser católico noventa por cento com nomes portugueses, as danças, o vestuário e a gastronomia revelam a presença da cultura portuguesa que foi aceite pacificamente pelos timorenses.
Como referimos atrás que os missionários quando se instalaram em Timor, não só expandiram o cristianismo, mas também expandiram o português abrindo escolas para o ensino do mesmo desenvolvendo o tétum, língua franca de Timor, espontânea e paralelamente ao seu parceiro lusófono. Pois, na altura o tétum era o único meio de comunicação mais favorável para a evangelização.
O esforço dos missionários não foi correspondido pelo governo português que, só em 1915 abriu em Timor-Leste a primeira escola oficial, tentando equilibrar o esforço dos missionários, expandindo a língua portuguesa em serviço nesta meia ilha, embora o ensino atingisse apenas uma pequena elite a influência cultural portuguesa fora entretanto, ao longo de quatro séculos de presença missionária, paulatinamente assimilada.
Não obstante este tardio esforço, até 1975, apenas 50% da população se podia exprimir em português e talvez menos de metade se comunica na mesma língua, oscilando esta apenas de elite administrativa para clero católico. Até o ano 1974 só existia em todo o território uma única escola secundária, que era o liceu DR. Francisco Machado, uma escola agrícola e a escola Canto Resende que era para a formação de professores primários, essas são as escolas públicas a nível secundário.
O português, tal como o tétum, têm uma função integradora na sociedade timorense ao nível pelo menos das camadas dirigentes, dos letrados que ocupam uma posição cimeira. Como notamos já, um dos factores de unidade, em Timor, a difusão de uma cultura luso-timorense, fruto de uma aculturação paulitana ao longo de quatro séculos e meio de contacto. Através dessa cultura mestiçada a qual o catolicismo e a língua portuguesa são os dois elementos-chave, a população timorense em geral e a sua classe dirigente em especial integram-se num universo cultural mais amplo, o da civilização lusófona.
O português faz parte da história de Timor-Leste, podendo assim vir a ser considerado como uma das línguas maternas, atendendo a sua sobrevivência e resistência durante os quatro séculos e meio a par das línguas locais da família austronésia e papua e sua resistência perante as deteriorações ao ponto de a eliminar por completo. A invasão militar indonésia em Timor-leste veio impor impactos negativos na evolução da língua, exceptuando os timorenses que conseguiram emigrar para Macau, Austrália e Portugal, e que tiveram oportunidade de aperfeiçoar o português. Contudo, aos que ficaram no país, particularmente sob o controle administrativo do ocupante, foram-lhes retirados progressiva e inteligentemente a possibilidade de continuarem a falar o português, com pesadas imposições, nomeadamente, a proibição do uso da língua portuguesa, introdução e projecção da língua malaia, restrições e limitações do ensino do português, reservando-a apenas no ensino do Externato de São José e no Seminário em Balide, para mais tarde o abolir totalmente. Mas ele resistiu, apesar de já ser tão pobre a herança lusófona deixada pelos últimos governantes portugueses.
Porque português como língua oficial?
O português tem um valor universal concebida pela sua dimensão cultural, social, científica e histórica na confluência de civilizações constituem reconhecidamente alicerces fundamentais na identificação da vida da nação timorense e o seu Estado. É um idioma importante para Timor-Leste, pois sendo como língua internacional, falada por mais de duzentas milhões de pessoas nos países da CPLP, proporciona a Timor-Leste vantagens sociais e culturais e benefícios materiais. É uma língua de património cultural, de memória histórica e literária e de convivência na tradição local. Pois desde a sua existência em Timor-leste durante mais de quatro séculos foi capaz de harmonizar com as línguas locais reconhecidas para além do tétum que é língua mais falada e único meio de comunicação entre os timorenses nas suas actividades comerciais, sociais e políticas. O fenómeno de aculturação de séculos veiculada pela Língua Portuguesa e pela religião plasmada por normas e do Direito de matriz civilista ou continental, pujante de manifestações de cultura, gastronomia, arte e conhecimento que remonta séculos de existência, durante essa longa presença portuguesa, por sua incapacidade ou por sua conveniência, nunca interferiu gravosamente nas instituições locais e / ou fez poucas tentativas para mudar a cultura timorense, fez de Timor-Leste a moldura cultural de referência.
O português é a língua de saber. Uma “janela”para o Mundo. Como língua de cariz universal traz conhecimentos de ciência, tecnologia e valores humanos. Em torno desta Língua, nascem e crescem valores inconfundíveis que embrionaram o espírito da nação timorense, constituindo as bases estruturantes para o desenvolvimento social, político e económico do País. Factos históricos já referidos mostram que o português enraizou em Timor-Leste. Durante a estadia de Portugal em Timor os timorenses já entendiam e falavam português, e foi a primeira língua pela qual aprenderam a ler e escrever. O português também demonstra a identidade cultural timorense, porque com o português os timorenses aprenderam a desenvolver-se e a mudar da sua vida social, política e económica. Imagina se os nossos políticos da geração de 1975 não tivessem aprendido o português? Talvez, não seríamos uma nação como somos hoje.
Realmente a língua portuguesa, a partir dos anos 60 do último século, já constituía o veículo que possibilitava comunicarmo-nos dentro do território e também com Portugal e restantes países lusófonos de uma forma mais compreensível e inteligível.
Portanto, o português é, desde quase meio milénio, o veículo de uma presença cultural que condicionou profundamente tanto as relações externas do espaço timorense como a sua própria individualidade étnica não é de presumir que possa vir a ser levianamente alijado por qualquer político autenticamente representativo do povo de Timor.
Como sabemos, uma língua não é um instrumento neutro e que ela transporta consigo uma carga afectiva e cultural, e ao adoptar uma língua para língua oficial de um país tem que ter em conta a possibilidade de se adestrar a população no uso de várias línguas em simultânea. Relacionando com a realidade timorense, verifica-se que esta questão desdobra. Antes demais, constata-se que Timor-Leste não é uma realidade cultural uniforme. E a sua diversidade corresponde cerca de duas dezenas de línguas.
Ora, uma língua transporta em si um património secular, se não milenar, de experiência humana e o seu desaparecimento representa sempre uma perda cultural irreparável.
Daí a fixação e a aprendizagem destas línguas pelas comunidades respectivas serão promovidas em simultâneo com quaisquer medidas adoptadas para a implementação de uma língua oficial.
A nível estratégico, uma língua contribui significativamente para a identidade de um povo. Ela é um lugar de memória e de afirmação cultural. Lembremos os bascos, os irlandeses, os albaneses, os catalães… .
No caso timorense, há uma língua franca, o Tétum, que poderia exercer essa função. Teria a vantagem de ser uma língua saída do caldo das culturas locais, abrindo possibilidades a uma comunidade linguística alargada às populações de Timor Ocidental e das ilhas vizinhas.
O CNRT na sua convenção realizada em Peniche decidiu adoptar como língua oficial para o seu futuro país o português, prevendo também a sua participação como membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. O seu estatuto de língua
oficial veio a ser reforçado na Constituição da República da primeira legislatura, artigo 13. A hipótese adoptada pelo CNRT, de escolher para língua oficial o português tem muitas vantagens. Do ponto de vista pragmático, dá acesso aos outros países de língua portuguesa, bem como aos de língua espanhola. Mas há outro género de razões também. A história teceu laços entre timorenses e Portugal e a verdade é que os timorenses nutrem uma ternura particular por Portugal e pelos portugueses. Do ponto de vista identitário, a caracterização desta identidade veiculada pela língua não se esconde e nem prescreve no tempo. Ganha de forma expressiva com a reconquista da Independência de Timor-Leste. Consolida-se com o testemunho do seu credo e a sua fé. É a língua da razão e da liberdade. Através dela se exprime a vontade do povo timorense. Afirma-se os valores da cidadania, da história, escreve-se as bases da fundação da sua nacionalidade; a constituição política e serve de elo para com muitos povos e países espalhados pelo Mundo. A sua identidade leva-o à sua adesão ao espaço lusófono, uma ligação privilegiada pela luta e pela história de povos e continentes com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Esta identidade traz a auto estima de seus povos, a interacção dos mesmos e o seu relacionamento. A soberania do seu espaço e do seu território faz Timor-Leste o País insular de 1500 km2, com a sua orla e fronteira marítima uma bandeira da lusofonia sempre vibrante ao mundo. Torna-o distinto a sua soberania. Constitui sobremaneira o pilar da sobrevivência política, o equilíbrio geopolítico e económico na região. E a língua portuguesa ajudaria a consolidar estas e outras raízes simbólicas de uma identidade nacional que têm a ver com uma relação histórica singular com Portugal.
O enquadramento de Timor-Leste na CPLP, e tendo uma única língua comum, tornar-se-á fácil o entendimento e a comunicação dos mesmos que fortaleça a cooperação entre os Estados. Esta mesma língua cria também laços de amizade, solidariedade, sentido de defesa mútuos e de interesses comuns de cada um dos Países de Língua Portuguesa. Neste relacionamento estratégico, torna-o privilegiado com os Estados-membros da CPLP, designadamente com a cooperação portuguesa, brasileira, angolana e cabo-verdiana. Anota-se que actualmente o Brasil e Angola, constituem Estados potencialmente emergentes, o primeiro a nível mundial e o segundo a nível regional. É na cooperação que se torna reais as vantagens privilegiadas que Timor-Leste usufrui com Portugal, e o Brasil em áreas diversas, desde a construção de infra-estruturas básicas, para o povo e para a construção do aparelho do Estado, o desenvolvimento rural, a agricultura, pequenas e médias tecnologias, sector da saúde, ensino e educação, sector da justiça, segurança e defesa. Pode se beneficiar da União Europeia através de Portugal, como membro.
Português e os seus desafios
“Timor-Leste é uma ficção lusófona onde a língua portuguesa navega contra uma geração culturalmente integrada na Indonésia, contra a geografia, contra manipulações políticas internas e contra a sabotagem de várias agências internacionais."
Geograficamente Timor-Leste está situado entre duas grandes nações com línguas e culturas muito diferentes, os quais Timor-Leste política e economicamente está dependente a eles. De maneira que, seria contraproducente as escolas formassem timorenses incapazes de dialogar e negociar com os povos vizinhos. E isso significa, portanto, que a língua inglesa se encontra, naturalmente, no topo das exigências escolares. É a língua da Austrália e da Nova Zelândia, os dois países mais desenvolvidos e que são, certamente, parceiros económicos importantes e mercados a explorar por uma futura indústria de turismo. Língua adoptada pelo mundo da finança e da indústria, língua predominante no campo das novas tecnologias e dos grandes meios de comunicação social – porta de Timor para o mundo e vice-versa.
Outro problema que Timor-Leste tem que ter em conta é a Indonésia, vizinho difícil mas parceiro comercial importante. Porque quase cem por cento dos produtos industriais das primeiras necessidades dos timorenses são importados da indonésia.
Uma outra questão, é a presença das forças multinacionais em Timor-leste, esmagadoramente australiana, e as restantes forças de outras nações e a administração de ONU a exprimir-se na língua inglesa, introduzem um outro factor de erosão na opção feita pelo governo. Tanto mais que a estrutura unitária timorense não dispõe de meios e nem de consistência política. Como é óbvio a adopção do português como língua oficial provocou vários raciocínios contracorrentes exibidos nos anos recentes. A decisão tomada pela Assembleia Constituinte das primeiras eleições em consagrar o português como língua oficial em parceria com o tétum causou uma polémica, onde para uns é um caso consumado e para outros, uma ilógica circunstancial, uma decisão insensata.
Das várias postulações contracorrentes destacam-se:
- A língua portuguesa é falada apenas por 5% dos timorenses e, desses, poucos a falam correctamente e ainda o português é uma língua que nunca foi falada pela maioria da população;
- A opção pelo português não é mais do que o saudosismo da velha geração ao colonialismo português e é um neo-colonialismo cultural português;
- A escolha do português é uma de imposição linguística como forma de monopólio de poder político e exclusão da maioria desse poder;
- O português é definido por mestiços descendentes de portugueses que querem alguma supremacia social e cultural perante o povo e a contínua ligação com Portugal;
- A nova geração, fala a bahasa indonésia no seu dia-a-dia e o português é uma língua estrangeira que essa geração não fala e nem entende;
- O português é uma língua estrangeira e não reflecte a cultura de Timor-Leste;
- O inglês é uma língua que garante o desenvolvimento económico e tecnológico;
- O português não é uma língua de trabalho;
- A CPLP só tem países distantes de Timor-Leste e sem recursos e não são uma potência económica;
- O português é uma língua difícil;
- Quanto aos meios e ajudas financeiras, compete a outras agências (o Banco Mundial, a UNICEF, a UNDP, a UNESCO, os doadores) decidir, sem problemas. Os timorenses devem limitar-se a pensar no uso das línguas maternas como línguas de instrução à criança, através das quais a criança aprende mais depressa e melhor do que noutra língua;
- As traduções devem fazer-se em tétum, bahasa indonésia e inglês, porque o povo não lê em português;
- Não há professores de português suficiente.
Lendo as postulações dos raciocínios contracorrentes têm tratado o português, a injustiça reside no paradoxo exibido por dois regimes cúmplices: o regime ocupacionista, que reprimiu efectivamente a circulação da língua a poços da resistência (linguística, sociocultural e política); e o regime da libertação (o de grande abertura e emancipação precoce), que impõe inacessíveis parâmetros de realização social da língua.
Um outro grande desafio que amortece o espírito motivador dos jovens em aprender o português foi o teor ideológico e político dos partidos políticos nas campanhas eleitorais de 2007 relativamente ao tétum e o português.
Nas campanhas para as eleições presidenciais e parlamentares d 2007, alguns partidos políticos lançaram as suas teorias políticas em mudar as línguas oficiais vigentes em Timor-Leste, se eles ganharem nas eleições e governarem. Uns preferiam o bahasa indonésia, uns queriam o inglês e outros apenas o tétum como língua oficial. Mas, infelizmente, nenhum destes partidos tem assento no parlamento.
Português em Timor-Leste que futuro?
A língua portuguesa como língua oficial, e devido ao seu estatuto é língua segunda, termo que para Stern pode querer exprimir a relação entre a pessoa e a língua; isto é, a língua “nova” ou ‘estrangeira/ estranha’ para o indivíduo.
Sendo assim e tendo em conta o nível de proficiência, para qualquer principiante, independentemente de se aplicar ou não o critério do primeiro, ele seria sempre língua estrangeira.
Perante a dificuldade podemos optar por um de dois caminhos:
1) Considerar a questão de um ponto de vista exclusivamente sociolinguístico: o português só é língua segunda para os falantes dos países que o têm como língua oficial, onde ele está em contacto com outras e o modelo disponibilizado para aprendizagem resulta seu estatuto. Ou
2) Considerar a questão de um ponto de vista do indivíduo e resolvê-la como tantas vezes acontece, com a noção de continuum: num extremo estariam as situações de aprendizagem e de ensino mais típicas de LE e no outro as mais típicas de LS.
Ainda sobre a língua segunda, Richards comenta: “ o termo segunda língua […] tem sido cada vez mais usado em linguística aplicada para referir a aprendizagem de qualquer língua independentemente do estatuto dessa língua em relação a quem a aprende ou ao país em que esta língua esta a ser aprendida”. Ao contrário de Richards, Ellis como tantos outros, tem uma posição mais favorável a esse uso: “ Aquisição da segunda língua não pretende estabelecer um contraste com a aquisição de língua estrangeira. Ele é usado como termo genérico”.
Em termos de dificuldade cito também Susane Grass.
“É difícil imaginar uma situação em que os processos fundamentais envolvidos na aprendizagem de uma língua não materna [a non-primary language] dependessem do contexto em que essa língua é aprendida”.
O português que se ensina em Timor-Leste, pela minha visão pessoal atendendo ao seu contexto é ensinado mais como língua estrangeira do língua segunda, visto que, todos os materiais didácticos utilizados não reflectem a cultura timorense.
O português reencontra o seu lugar, como língua segunda após o tétum, cuja vocação natural é língua nacional, em detrimento dos falantes locais, cuja superabundância e baixo rendimento, em razão da população de falantes de idioma, os tornam inviáveis no ensino e no uso escrito.
Em todo o território o português foi implementado como língua de ensino desde o ensino básico até o ensino superior em todas as escolas quer públicas, quer privadas de acordo com o currículo nacional estipulado pelo Ministério da Educação de Timor-Leste.
Mas, no entanto, devido da falta de materiais didácticos e recursos humanos, o ensino ainda é trilingue, português, tétum e bahasa indonésia. Além do escasso de professores que dominam o português, muitos dos professores timorenses foram formados nas universidades da indonésia, e para além destes já formados estão-se a formar nas universidades de Timor-Leste milhares de jovens com o indonésio como língua de ensino e outros tantos, dezenas de milhares a formarem-se nas universidades da Indonésia. E estes com certeza depois do curso regressarão para o país, possibilitando assim a permanência e o uso do indonésio, desafiando o uso do português e a sua evolução.
Mesmo no ensino do português e na formação de professores, temos em Timor-Leste professores de língua portuguesa de Portugal e Brasil, embora falem todos o português, mas cada um tem a sua variante que pode influenciar o aprendente.
Uma outra variante que também influenciará a aprendizagem do português é a de Cuba. Presentemente temos centenas de médicos a prestar serviço em Timor-Leste, também temos um curso de medicina na Universidade Nacional Timor Lorosa’e ministrado pelos cubanos, e umas centenas de jovens que estão a fazer o curso de medicina em Cuba.
Para que o ensino do português seja assegurado pelos timorenses, é necessário a formação contínua dos docentes timorenses por formadores qualificados, especialmente os professores que estão no nível intermédio, refere-se aqui ao ensino pré-secundário, secundário e superior, porque estes 90% não tem formação básica em português.
Para além desses já referidos, como sabemos, os meios de comunicação, hoje em dia constituem um meio mais eficaz para a transmissão de ciência e tecnologia mais acessíveis. Actualmente os jornais em Timor-Leste estão todas em Língua indonésia e tétum, assim também os programas da televisão. Isto, de uma forma, dificulta a aprendizagem do português, visto que, estas duas línguas, ambas não têm flexão verbal. Por outro lado facilita a aprendizagem do indonésio. E assim acaba por criar um “Babel Lorosa’e” como lhe chamou Luís Filipe Thomas, não se fala bem nenhuma das línguas da praça (tétum, português, inglês, indonésio). Perdidos da gramática e do vocabulário uma geração timorense chega a idade adulta e ao mercado de trabalho não muito preparado.
Conclusão
Com os factos históricos já relatados, podemos afirmar que o português chegou em Timor desde a chegada dos primeiros portugueses, sejam eles comerciantes ou missionários. E durante quase meio século ficou lá e foi-se evoluindo com o tempo. E também com o tempo tornou-se sólida que foi capaz de resistir às tentativas de o eliminar, principalmente durante os 24 anos da ocupação indonésia em que, a língua portuguesa foi extremamente proibida o seu uso na comunicação e ensino nas escolas.
Reencontra o seu espaço depois do referendo de 1999, e agora tem o estatuto de língua oficial em parceria com o tétum.
Mas não basta que tal fique determinado na lei; ela tem que ser capaz de responder a todas as necessidades de comunicação: tem de ser o veículo de toda a informação, de toda a ciência de toda a tecnologia, ser língua de ensino, tem que ser capaz de responder a todas as necessidades económicas, sociais e políticas da sociedade.
Terá o seu futuro? Essa questão cabe a nós, todos os timorenses em geral e os governantes, especialmente o ministério da educação, em reflectir e agir de forma a responder a questão colocada.
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